terça-feira, 11 de abril de 2017

13 Reasons Why

Se você usou a Internet nos últimos 3 meses, já deve ter percebido que muitos assuntos que antes eram tabu tem vindo à tona. Não sei se a culpa é da faixa etária que compõe minhas redes sociais, mas sempre tem alguém postando sobre feminismo, machismo, racismo, ansiedade, depressão, suicídio... Não apoiando, mas discutindo, tentando conscientizar alguém. E eu não julgo essas pessoas, algumas até admiro.
Me lembro de uma menina que é bem conhecida na minha antiga faculdade por sempre ser aquela que está em todas as discussões sobre política. Ela realmente fala bem sobre (e isso não significa que eu concorde com suas opiniões), mas se prende a detalhes muitas vezes inúteis na prática: "Um homem pode se dizer feminista ou deve se intitular pró-feminismo?". Essa menina leva horas, textões, debates falando sobre, e o que isso muda? Exato, nada!
Me lembro de um garoto gay e negro que vive discursando sobre inclusão e aceitação de todos, mas eu ainda lembro da expressão que ele fez ao me conhecer. E de como me tratou diferente depois de começar a falar com algumas garotas. Ele incluiu pessoas, a diferença é que isso significava me excluir.
Me lembro de outra menina que também é negra e participa assiduamente do movimento anti-racismo da universidade (coisa que eu acho super necessário e bacana). Em uma discussão sobre bullying, mais especificamente, preconceito contra cabelos crespos, várias meninas se pronunciaram, mas ela fez questão de deixar claro que não sofremos tanto porque afinal, éramos brancas.
Me lembro de um amigo (sic) que vivia dizendo se importar comigo, mas que só sabia apontar defeitos e dizer o quanto eu tinha que mudar minha forma de ser e de pensar. Hoje ele provavelmente está falando sobre o quão abusivo o Marcos (aquele que foi expulso do BBB) é por diminuir a namorada.
Ano passado estive em situações muito difíceis, me afastei bastante de todos na faculdade. Sabe quantas pessoas "desconstruídas" me procuraram? Nenhuma.
Meu ponto aqui não é jogar indiretas ou fazer uma pressão psicológica sobre essas pessoas. Eu só quero mostrar que as vezes, por mais bem intencionados que possamos estar, somos hipócritas. Às vezes estamos tão animados pra mudar o mundo, que não paramos pra olhar pro colega do lado.
Talvez você repita seu discurso politicamente correto porque seja algo que você sabe que é certo, que você acreditou um dia, mas o quanto isso está sendo posto em prática? O quanto isso se tornou um modo de vida e não apenas um conjunto de palavras legais que atraem likes? O quão práticas nossas ideologias são? 
Sim, é clichê dizer que a mudança começa por nós mesmos, mas por que diabos ninguém faz isso? Por que estamos todos preocupados olhando pra problemas maiores como fome na África, corrupção em Brasília, mas não somos capazes nem de ver que um colega de classe está entrando em depressão?
Acredito que já tenha passado da hora de repensar nossos atos. E não, não estou revoltada. Essa foi apenas uma reflexão na madrugada depois de assistir a essa série.

quarta-feira, 8 de março de 2017

O Infeliz Dia da Mulher


O dia da mulher começou a ser comemorado no ano de 1909, com datas variando entre fevereiro e março. Essa comemoração tinha por objetivo manifestar o desejo das mulheres, junto ao movimento socialista, por igualdade e direitos. 108 anos depois, nós ganhamos nossos direitos, mas pouca coisa mudou na visão da sociedade como um todo.
Enquanto andava pela rua hoje, fui parabenizada várias vezes pelo dia da mulher. Ganhei bombons em um restaurante, vi outros distribuindo rosas, tudo para o nosso dia. Foi inevitável não pensar em como seria bom viver essa realidade sempre: andar de cabeça erguida, orgulhosa por ser mulher e ter o respeito da sociedade apenas por isso.
Nós mulheres devemos estar sempre lembrando ao mundo o nosso potencial, já que normalmente ele se esquece disso. Temos que estar sempre com roupas não muito chamativas para lembrar que também somos seres humanos e merecemos respeito. Temos que falar baixo e obedecer sempre para lembrar ao mundo sobre a nossa "virtude" e "valor". Temos que ter um "valor", porque não importa o quão boa você seja, homem nenhum vai querer um objeto que já foi de todo mundo. E óbvio que precisamos nos guardar não para nossa própria satisfação e sim para agradar nossos maridos, porque a verdade nua e crua é que não se espera que uma mulher seja muita coisa sem um homem. Achou absurdo? É como a sociedade nos trata!
Não me leve a mal, não defendo aqui uma ideia radical de que nenhuma mulher deva casar e ter filhos ou aceitar um parabéns pelo o seu dia. Venho aqui denunciar a hipocrisia! Por que tantas mulheres não gostam desse dia que foi dado a elas com tanto carinho? (Pode conter ironia)
O que não entra na cabeça dessas mulheres é porque os homens que nos parabenizam hoje são os mesmos a nos oprimir amanhã. Os mesmos que dizem que "fulano age como uma mulherzinha", "mulher dirige mal", "mulher direita não trabalha porque o homem é o provedor da casa", "quem tem que cuidar dos filhos e limpar a casa é a mulher", "mulher deve ganhar menos porque engravida" e nos tratam como objeto quando tentam atribuir algum "valor" a nós. Não somos produtos, somos pessoas!
A cada dia o machismo nos mata e isso, infelizmente, não é uma figura de linguagem ou frase de efeito. O jornal O Globo publicou hoje que metade dos assassinatos a mulheres no Rio de Janeiro é feminicídio (quando a vítima é morta por sua condição de sexo feminino. Em outras palavras, morta por simplesmente ser mulher) e outra notícia mais antiga mostra um número ainda mais alarmante: 40% das mulheres que sofrem violência doméstica são evangélicas.
Toda vez que leio essa matéria, sinto um aperto na garganta. Sabemos que boa parte do ministério de Jesus foi construído por mulheres, elas estavam sempre lá oferecendo casa, comida, ouvindo, aprendendo e com certeza passando a mensagem do nosso Mestre pra frente (Lc. 8.1-3). Até nossas instituições são criadas tendo mulheres como base, nós só não ganhamos todo o reconhecimento que deveríamos. Ao ver essa realidade, me preocupa pensar que no nosso meio sofremos tanta opressão, logo aqui, onde os "escolhidos de Deus" residem. Me entristece ainda mais é ver pastores conhecidos espalhando besteiras por aí e descaradamente defendendo ideias machistas, isso é no mínimo uma falta de responsabilidade.
Por fim, o que queremos? O fim de uma sociedade hipócrita! Não precisamos de parabéns por sermos mulheres, não precisamos de datas comerciais usando nosso nome, precisamos de mudanças, de um mundo seguro onde o simples fato de ser mulher não seja motivo de medo.
No mais, feliz dia da mulher pra nós que batalhamos todos os dias.


Céfora Carvalho.
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