quarta-feira, 8 de março de 2017
O Infeliz Dia da Mulher
O dia da mulher começou a ser comemorado no ano de 1909, com datas variando entre fevereiro e março. Essa comemoração tinha por objetivo manifestar o desejo das mulheres, junto ao movimento socialista, por igualdade e direitos. 108 anos depois, nós ganhamos nossos direitos, mas pouca coisa mudou na visão da sociedade como um todo.
Enquanto andava pela rua hoje, fui parabenizada várias vezes pelo dia da mulher. Ganhei bombons em um restaurante, vi outros distribuindo rosas, tudo para o nosso dia. Foi inevitável não pensar em como seria bom viver essa realidade sempre: andar de cabeça erguida, orgulhosa por ser mulher e ter o respeito da sociedade apenas por isso.
Nós mulheres devemos estar sempre lembrando ao mundo o nosso potencial, já que normalmente ele se esquece disso. Temos que estar sempre com roupas não muito chamativas para lembrar que também somos seres humanos e merecemos respeito. Temos que falar baixo e obedecer sempre para lembrar ao mundo sobre a nossa "virtude" e "valor". Temos que ter um "valor", porque não importa o quão boa você seja, homem nenhum vai querer um objeto que já foi de todo mundo. E óbvio que precisamos nos guardar não para nossa própria satisfação e sim para agradar nossos maridos, porque a verdade nua e crua é que não se espera que uma mulher seja muita coisa sem um homem. Achou absurdo? É como a sociedade nos trata!
Não me leve a mal, não defendo aqui uma ideia radical de que nenhuma mulher deva casar e ter filhos ou aceitar um parabéns pelo o seu dia. Venho aqui denunciar a hipocrisia! Por que tantas mulheres não gostam desse dia que foi dado a elas com tanto carinho? (Pode conter ironia)
O que não entra na cabeça dessas mulheres é porque os homens que nos parabenizam hoje são os mesmos a nos oprimir amanhã. Os mesmos que dizem que "fulano age como uma mulherzinha", "mulher dirige mal", "mulher direita não trabalha porque o homem é o provedor da casa", "quem tem que cuidar dos filhos e limpar a casa é a mulher", "mulher deve ganhar menos porque engravida" e nos tratam como objeto quando tentam atribuir algum "valor" a nós. Não somos produtos, somos pessoas!
A cada dia o machismo nos mata e isso, infelizmente, não é uma figura de linguagem ou frase de efeito. O jornal O Globo publicou hoje que metade dos assassinatos a mulheres no Rio de Janeiro é feminicídio (quando a vítima é morta por sua condição de sexo feminino. Em outras palavras, morta por simplesmente ser mulher) e outra notícia mais antiga mostra um número ainda mais alarmante: 40% das mulheres que sofrem violência doméstica são evangélicas.
Toda vez que leio essa matéria, sinto um aperto na garganta. Sabemos que boa parte do ministério de Jesus foi construído por mulheres, elas estavam sempre lá oferecendo casa, comida, ouvindo, aprendendo e com certeza passando a mensagem do nosso Mestre pra frente (Lc. 8.1-3). Até nossas instituições são criadas tendo mulheres como base, nós só não ganhamos todo o reconhecimento que deveríamos. Ao ver essa realidade, me preocupa pensar que no nosso meio sofremos tanta opressão, logo aqui, onde os "escolhidos de Deus" residem. Me entristece ainda mais é ver pastores conhecidos espalhando besteiras por aí e descaradamente defendendo ideias machistas, isso é no mínimo uma falta de responsabilidade.
Por fim, o que queremos? O fim de uma sociedade hipócrita! Não precisamos de parabéns por sermos mulheres, não precisamos de datas comerciais usando nosso nome, precisamos de mudanças, de um mundo seguro onde o simples fato de ser mulher não seja motivo de medo.
No mais, feliz dia da mulher pra nós que batalhamos todos os dias.
Céfora Carvalho.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário